O templo e o culto
15/03/2021 | Mensagens, Pr Wilson Greve
A caminho da cruz
Texto bíblico básico: Marcos 11.12-19
Neste período que antecede a Páscoa, vamos examinar alguns eventos da última semana de Jesus antes de sua crucificação e ressurreição.
Podemos questionar o que temos a ver com o episódio relatado nesse texto de Marcos. Afinal, não temos nenhum mercado na igreja e não praticamos nada de errado.
De qualquer modo, porém, essa purificação do templo por Jesus foi um evento importante, tanto é que todos os quatro evangelhos o citam. O que aconteceu?
Jesus encontra um cenário triste
O pátio do templo em Jerusalém se transformara numa praça de mercado. É fácil imaginar o barulho, a sujeira e até o mau cheiro que deviam reinar ali!
Mas por que isso aconteceu?
A lei de Moisés mandava que todos comparecessem ao santuário por ocasião das três grandes festas de Israel:
Três vezes por ano todos os seus homens se apresentarão ao Senhor, ao seu Deus, no local que ele escolher, por ocasião da festa dos pães sem fermento, da festa das semanas e da festa das cabanas. Nenhum deles deverá apresentar-se ao Senhor de mãos vazias (Dt 16.16).
Aquilo naturalmente deixava a cidade repleta de movimento. Além disso, todos tinham de apresentar seus sacrifícios, para o que precisavam de animais:
Ofereçam como sacrifício da Páscoa ao Senhor, ao seu Deus, um animal dos rebanhos de bois ou de ovelhas no local que o Senhor escolher para habitação do seu Nome (Dt 16.2).
Para os que vinham de longe, era impossível trazer esses animais na viagem – tinham de adquiri-los no local, para o que também precisavam de moeda local:
Todos os alistados, da idade de vinte anos para cima, darão ao Senhor essa oferta. Os ricos não contribuirão com mais, nem os pobres darão menos que seis gramas, quando apresentarem a oferta ao Senhor como propiciação por sua vida (Ex 30.14-15).
Atos 21.24 oferece um exemplo ilustrativo de tais situações, aqui envolvendo o apóstolo Paulo e seu empenho em mostrar sua fidelidade à Lei:
Participe com esses homens dos rituais de purificação e pague as despesas deles, para que rapem a cabeça. Então todos saberão que não é verdade o que falam de você, mas que você continua vivendo em obediência à lei.
Portanto, o comércio em si era inevitável. O lucro desse comércio favorecia os sacerdotes. Era uma fonte de renda até legítima para eles, mas ele desandou em abusos:
Os sacerdotes levitas e todo o restante da tribo de Levi não terão posse nem herança em Israel. Viverão das ofertas sacrificadas para o Senhor, preparadas no fogo, pois esta é a sua herança. Vocês terão que dar-lhes as primícias do trigo, do vinho e do azeite, e a primeira lã da tosquia das ovelhas (Dt 18.1-4).
Jesus toma uma atitude diante da situação
Por que essa indignação de Jesus, refletindo as palavras do Salmo 69.8-9, citadas no relato do episódio?
Sou um estrangeiro para os meus irmãos, um estranho até para os filhos da minha mãe; pois o zelo pela tua casa me consome, e os insultos daqueles que te insultam caem sobre mim.
Jesus demonstra zelo pelo templo
O ambiente todo estava desvirtuado. Todo aquele movimento importava muito mais do que o culto em si – a adoração a Deus, finalidade de tudo.
E nós? Afinal, para que vamos à igreja?
Jesus então demonstra zelo pela sua missão
Não está escrito: ‘A minha casa será chamada casa de oração para todos os povos’? Mas vocês fizeram dela um covil de ladrões (Mc 11.17).
Jesus também demonstra zelo pela sua autoridade
Então os judeus lhe perguntaram: “Que sinal miraculoso o senhor pode mostrar-nos como prova da sua autoridade para fazer tudo isso? Jesus lhes respondeu: Destruam este templo, e eu o levantarei em três dias (Jo 2.18-19).
E o culto e o templo hoje?
O que tudo isso significa para nós? Algumas constatações:
O comparecimento dos judeus ao templo era uma atitude perfeitamente legítima.
Nós também devemos ir à igreja (o templo):
E consideremo-nos uns aos outros para incentivar-nos ao amor e às boas obras. Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas encorajemo-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês veem que se aproxima o Dia (Hb 10.24-25).
Mas o que de fato isso significa? Podemos simplesmente seguir algumas rotinas e talvez nos perguntar por que deveríamos mesmo comparecer ali. Entretanto:
Devemos cultuar na igreja (no templo):
Eles se dedicavam ao ensino dos apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e às orações. Todos estavam cheios de temor, e muitas maravilhas e sinais eram feitos pelos apóstolos. Todos os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum. Vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a cada um conforme a sua necessidade. Todos os dias, continuavam a reunir-se no pátio do templo. Partiam o pão em suas casas, e juntos participavam das refeições, com alegria e sinceridade de coração, louvando a Deus e tendo a simpatia de todo o povo. E o Senhor lhes acrescentava todos os dias os que iam sendo salvos (At 2.42-47).
Comparecer aos cultos na igreja é essencial, sim, para praticar a adoração em comunhão, recebermos mutuamente alimentação e fortalecimento espiritual e intercedermos uns pelos outros em nossas necessidades e ansiedades.
Já na atual impossibilidade de realizar isso concretamente, precisamos buscar interagir da forma possível como se estivéssemos presentes – e nesta situação, é importante lembrar que…
…nós mesmos também somos o santuário:
Vocês não sabem que são santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vocês? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; pois o santuário de Deus, que são vocês, é sagrado (1Co 3.16-17).
Assim, podemos e devemos adorar a Deus em todo tempo e lugar:
Está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. São estes os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade (Jo 4.23-24).
Em resumo:
- A reunião do povo de Deus na igreja (no “templo”), sempre que possível, é fundamental para uma vida cristã sadia por promover a adoração, a comunhão, a intercessão e o apoio mútuos. A igreja primitiva em Jerusalém era tão atraente porque cultivava essas qualidades.
- O simples comparecimento aos eventos da igreja e o cumprimento de rituais não é suficiente. Culto autêntico é mais do que rotina e tradição – é busca da presença de Deus.
- A substituição do culto presencial por reuniões virtuais pela internet é melhor do que nada, mas sempre será uma forma precária.
- Pessoalmente também somos santuário de Deus, o que permite cultuar a Deus em qualquer lugar.
- A degeneração como no templo de Jerusalém é sempre um risco. Portanto, é necessário vigiar.
Pr. Wilson R. Greve – domingo, 14/3/2021