Murmurador ou corajoso?
04/09/2023 | Mensagens, Pr Wilson Greve, Série "Em tempos de incerteza" (Habacuque)
Série “Em tempos de incerteza” – Habacuque
Texto bíblico básico: Habacuque 1.1-11
Habacuque é um personagem bíblico relativamente pouco conhecido. Supõe-se que seu livro tenha sido escrito por volta do ano 600 aC, durante o reinado de Jeoaquim em Judá, um rei ímpio, sob quem a religião estava em declínio. Portanto, Habacuque deve ter sido contemporâneo do profeta Jeremias, que também escreve a respeito desse reinado, condenando-o:
Que aflição espera Jeoaquim, que edifica seu palácio de forma desonesta! Constrói suas paredes com injustiça, pois obriga gente do seu povo a trabalharem sem pagar salário. Diz: ‘Construirei para mim um palácio magnífico, com salas espaçosas e muitas janelas. Revestirei tudo com painéis de cedro e pintarei de vermelho vívido’. Mas um belo palácio de cedro não faz um grande rei! Josias, seu pai, também tinha muita comida e bebida, mas em tudo que fazia era justo e íntegro; por isso tudo deu certo para ele. Fez justiça ao pobre e ao necessitado e os ajudou, e tudo lhe correu bem. Não é isso que significa me conhecer?, diz o Senhor. “Você, porém, só tem olhos para a cobiça e a desonestidade; derrama sangue inocente e reina com crueldade e opressão (Jr 22.13-17).
Em seu livro, Habacuque encara a ameaça dos babilônios, mas, ao contrário de Jeremias, não se dirige ao povo, embora se preocupe com ele. A respeito disso, ele interpela Deus e o questiona. Que ousadia! Seria ele um murmurador, reclamão ou corajoso?
Mas não seria essa também uma atitude nossa muitas vezes? Como ficamos então?
Será que Deus está ausente?
Eis como Habacuque se dirige a Deus:
Até quando, Senhor, terei de pedir socorro? Tu, porém, não ouves. Clamo: “Há violência por toda parte!”, mas tu não vens salvar (Hb 1.2).
A situação é semelhante à de Jó, que também desabafa diante de Deus:
Os jumentos selvagens não zurram ao não encontrar capim? Os bois não mugem quando não têm alimento? As pessoas não se queixam quando falta sal na comida? Alguém gosta da clara de ovo, que não tem sabor? Perco o apetite só de olhar para ela; tenho enjoo só de pensar em comê-la! “Quem dera meu pedido fosse atendido, e Deus concedesse meu desejo. Quem dera ele me esmagasse, estendesse a mão e acabasse comigo. Ao menos tenho este consolo e alegria: apesar da dor, não neguei as palavras do Santo (Jó 6.5-10).
Davi, por sua vez, diz:
Quem conhece teu nome confia em ti, pois tu, Senhor, não abandonas quem te busca (Sl 9.10).
Ou seja, queixar-se e desabafar é legítimo, desde que não se duvide do controle de Deus.
Será que Deus vai cuidar do seu povo?
Por que Deus não age do meu jeito? Habacuque pergunta e comenta:
Por que me fazes ver a injustiça, e contemplar a maldade? A destruição e a violência estão diante de mim; há luta e conflito por todo lado. Por isso a lei se enfraquece e a justiça nunca prevalece. Os ímpios prejudicam os justos, e assim a justiça é pervertida (Hc 1.3-4).
Este é o cenário que ele observa:
Injustiça – Maldade – Destruição – Violência – Luta – Conflito
Isso não se limita aos tempos de Habacuque. Jesus comenta algo similar no seu ambiente.
Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês são como sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo de imundície. Assim são vocês: por fora parecem justos ao povo, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e maldade (Mt 23.27-28).
Em que medida seria também o nosso caso?
Deveríamos brigar em favor do reino de Deus ou para ter razão?
Melhor será avaliar se estamos realmente corretos…
A resposta nem sempre é palatável
Esta foi a resposta de Deus a Habacuque:
Eis que suscito os caldeus, nação amarga e impetuosa, que marcha sobre a largura da terra para apoderar-se de moradas que não são suas. Horrível e terrível é; dela mesma sairá o seu juízo e a sua dignidade… Eles todos virão para fazer violência; os seus rostos buscarão o vento oriental, e reunirão os cativos como areia. E escarnecerão dos reis, e dos príncipes farão zombaria; eles se rirão de todas as fortalezas, porque amontoarão terra, e as tomarão (Hc 1.6-7,9-10).
Ou seja, ainda pode piorar. Diante disso, o livro de Provérbios comenta e recomenda:
Do homem são as preparações do coração, mas do Senhor a resposta da língua. Todos os caminhos do homem são puros aos seus olhos, mas o Senhor pesa o espírito. Confia ao Senhor as tuas obras, e teus pensamentos serão estabelecidos. O Senhor fez todas as coisas para atender aos seus próprios desígnios, até o ímpio para o dia do mal (Pv 16.1-4).
Jesus ensinou diante disso:
Eu lhes disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo (Jo 16.33).
Paulo, por sua vez, recomenda:
Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus (Fp 4.6).
Qual será a nossa reação?
Deus quer ouvir as nossas queixas, mas sem perdê-lo de vista – e ele não muda.
Assim, tudo poderá terminar em gratidão e louvor:
Bendirei o Senhor em todo o tempo, o seu louvor estará sempre nos meus lábios. Gloriar-se-á no Senhor a minha alma; os humildes o ouvirão e se alegrarão. Engrandecei o Senhor comigo, e todos, à uma, lhe exaltemos o nome (Sl 34.1-3).
Pr Wilson R. Greve – domingo, 3/9/2023