Viver o presente olhando para o futuro
29/03/2021 | Mensagens, Pr Kevin Tehlen
Texto bíblico básico: 2 Coríntios 5.1-10
Aqui e agora
O Domingo de Ramos deveria ser uma data festiva, mas hoje, com todas as perdas ao nosso redor, não parece ser bem assim – e como sonhar com o futuro nessas condições caóticas?
Todos desejamos levar uma vida boa, mas o que seria isso? Para muitos, tem a ver principalmente com riqueza material e saúde física. A saúde espiritual fica em segundo plano ou nem é levada em conta.
Nas condições em que vivemos hoje, olhamos então para o presente e desanimamos ou reclamamos.
Quando perdemos amigos ou familiares, os outros até compensam em parte a perda, mas estaríamos preparados para o fim da nossa própria vida e o futuro que se segue a ela?
No ambiente cultural em que o apóstolo Paulo escreveu o texto básico da meditação de hoje, predominava a opinião de que a alma humana era boa, mas o corpo era uma prisão indesejável para ela. Eis duas citações de filósofos da época:
Tu és uma pobre alma que deves carregar um cadáver (Epíteto).
Sou um ser superior, nascido para coisas mais elevadas, mas infelizmente sou um escravo do meu corpo, que considero apenas como uma cadeia imposta à minha liberdade. Em tão detestável habitação vive a minha alma livre (Sêneca).
Embora Paulo não compartilhasse essa ideia – afinal, ele diz que o nosso corpo é um templo do Espírito Santo – ele experimentou e reconhece que nossa vida no corpo é transitória.
A expectativa era que, ao morrer, a alma ficaria nua, mas Paulo diz que receberemos uma vestimenta espiritual, e ele inclusive alimentava a esperança de nem ser despido, mas de poder ser diretamente revestido.
Portanto, ele apresenta uma perspectiva para o futuro, e por isso não desespera. Por isso ele diz que hoje vivemos num tabernáculo ou numa tenda ou barraca, mas nossa esperança é de uma casa sólida e definitiva na eternidade:
Uma barraca ou tenda é habitação transitória, enquanto a casa é uma habitação definitiva e permanente. Quando morrermos, mudaremos do que é temporário para o que é permanente; da barraca para a casa eterna nos céus (Ray Stedman).
A esperança da volta de Jesus
A expectativa de futuro de Paulo lembra a necessidade de sermos vigilantes porque Cristo pode voltar a qualquer momento. Ele mesmo adverte:
Vigiem, porque vocês não sabem em que dia virá o seu Senhor. Mas entendam isto: se o dono da casa soubesse a que hora da noite o ladrão viria, ele ficaria de guarda e não deixaria que a sua casa fosse arrombada. Assim, vocês também precisam estar preparados, porque o Filho do homem virá numa hora em que vocês menos esperam (Mt 24.42-44).
Entretanto, tendemos a negligenciar essa vigilância. Em vez de ficar de guarda, como Jesus ensina aqui, preferimos “contratar um seguro” – procuramos levar uma vida cristã “correta” e achar que tudo estará bem assim. No fundo, não contamos com a volta de Cristo – afinal, já se passaram 2.000 anos…
Assim será com a ressurreição dos mortos. O corpo que é semeado é perecível e ressuscita imperecível; é semeado em desonra e ressuscita em glória; é semeado em fraqueza e ressuscita em poder; é semeado um corpo natural e ressuscita um corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual (1Co 15.42-44).
Pelo poder que o capacita a colocar todas as coisas debaixo do seu domínio, ele transformará os nossos corpos humilhados, para serem semelhantes ao seu corpo glorioso (Fp 3.21).
O hino 580 do Hinário para o Culto Cristão traduz essa esperança:
Este mundo jamais poderá me afastar
dos tesouros celestiais que eu vou receber.
Minha firme esperança está no meu novo lar;
Sou herdeiro com Cristo, vou com ele morar.
Ao passar pelo rio, nada mais temerei;
Nem pecados nem tristezas eu ali sofrerei.
Oh, que glória tão sublime quando eu subir para os céus!
Cantarei a linda história do Cordeiro de Deus.
Céu, lindo céu! Céu, lindo céu!
Há mansões celestiais, todas feitas por Deus.
Céu, lindo céu! Céu, lindo céu!
Eu vou pro céu, lindo céu, com Cristo vou morar no lindo céu.
Se colocarmos numa balança de um lado todos os nossos desejos daqui e, do outro, o anseio pela glória futura, qual pesará mais?
Vivendo aqui olhando para o futuro
Pedro diz a esse respeito:
Visto que tudo será assim desfeito, que tipo de pessoas é necessário que vocês sejam? Vivam de maneira santa e piedosa, esperando o dia de Deus e apressando a sua vinda (2Pe 3.11-12a).
Para podermos pôr isso em prática, Paulo lembra nos versículos 5-8 do nosso texto que, durante essa espera, Deus nos fortalece por meio do penhor o Espírito Santo. Esse penhor é como um pagamento parcial antecipado, um sinal que garante a consumação da compra. Jesus mesmo nos garante isso:
Pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Conselheiro para estar com vocês para sempre, o Espírito da verdade. O mundo não pode recebê-lo, porque não o vê nem o conhece. Mas vocês o conhecem, pois ele vive com vocês e estará em vocês (Jo 14.16-17).
João comenta isso em sua primeira carta:
Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é (1Jo 3.2).
Essa postura pode parecer alienada, mas na verdade é ela que fornece uma base firme para a vida. Alguém já disse:
As pessoas que fizeram as coisas mais importantes na terra
foram aquelas que mais amaram o céu.
Trata-se, portanto, de viver intensamente nossa vida presente, mas sempre na expectativa do futuro:
Não julguem nada antes da hora devida; esperem até que o Senhor venha. Ele trará à luz o que está oculto nas trevas e manifestará as intenções dos corações. Nessa ocasião, cada um receberá de Deus a sua aprovação (1Co 4.5).
Tendo assim nos recebido em seu favor, ele aceita graciosamente também as nossas obras, e é dessa aceitação imerecida que o galardão depende (João Calvino).
No tribunal de Cristo, o que será evidente: seu anseio pela vida eterna ou suas ambições terrenas?
Kevin Tehlen (obreiro) – domingo, 28/3/2021