O Reino ou meus direitos?
24/09/2018 | Mensagens, Pr Wilson Greve, Série "O sermão do monte"
Pr Wilson R. Greve (23/9/18)
Texto bíblico básico: Mateus 5.38-42
Introdução
O texto básico fala da nossa reação a ofensas. É da nossa natureza querermos retribuir as ofensas sofridas, e a lei de Moisés, no Antigo Testamento, leva isso em conta:
Se houver danos graves, a pena será vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, contusão por contusão (Êxodo 21.23-25).
Outro enunciado similar está em Deuteronômio 19.21.
Esta é a chamada Lei do Talião, e ela parece bastante brutal, mas na verdade ela representa um freio à nossa tendência de retribuir ofensas com outra ofensa ainda maior (veja p.ex. Gn 4.23-24). Diante disso, a lei do talião oferece justiça e misericórdia, limitando o alcance da vingança, evitando excessos. Além disso, não era a própria vítima que a aplicava, mas um juiz.
Nos tempos de Jesus, a tendência era que a aplicação literal dessa lei fosse substituída pelo pagamento de alguma indenização em dinheiro.
Oferecer a outra face (v 39b).
Já no Antigo Testamento havia o apelo de neutralizar a vingança pelo amor conforme Jesus instruiu:
Não procurem vingança, nem guardem rancor contra alguém do seu povo, mas ame cada um o seu próximo como a si mesmo – eu sou o Senhor (Levítico 19.18).
Se o seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber (Provérbios 25.21).
Ofereça o rosto a quem o ferir e engula a desonra (Lamentações 3.30).
Note-se, porém, que, ao mandar oferecer a outra face, Jesus não se referiu apenas a meras brigas físicas, mas a uma grave ofensa por meio de um tapa com as costas da mão na face direita do outro, demonstrando um desprezo total por aquela pessoa!
Jesus, então, deu ele mesmo o exemplo prático das suas instruções ao aceitar ser crucificado injustamente e então interceder em favor dos seus carrascos:
Jesus disse: Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo (Lucas 23.34).
O exemplo de Cristo foi o perdão e a ausência de ressentimento. Oferecer a outra face não é uma atitude passiva de aceitar uma injustiça, mas uma renúncia ativa ao nosso direito em favor do amor: é mostrar misericórdia, perdoar e não guardar rancor.
Ceder a capa junto com a túnica (v 40)
A capa ou manto de que se fala aqui era uma peça de vestuário valiosa e essencial para a proteção da pessoa, tanto que não podia ser retida como penhor de dívidas:
Se tomarem como garantia o manto do seu próximo, devolvam-no até o pôr-do-sol, porque o manto é a única coberta que possui para o corpo. Em que mais se deitaria? (Êxodo 22.26)
Jesus, então, ensina aqui a voluntariamente abrir mão dos nossos legítimos direitos por amor ao próximo.
O apóstolo Paulo desenvolve essa ideia como segue:
O conhecimento traz orgulho, mas o amor edifica (1 Coríntios 8.1).
Tenham cuidado para que o exercício da liberdade de vocês não se torne uma pedra de tropeço para os fracos (1 Coríntios 8.9).
Andar a segunda milha (v 41).
Trata-se de submeter-se mesmo a ordens abusivas sem tentar se impor – de não permitir a vingança, mas de amar, de não focar os próprios direitos e de não oferecer ao outro o mínimo, mas o máximo.
Um exemplo prático está em Lucas 23.26, que fala de Jesus a caminho da cruz:
Enquanto o levavam, agarraram Simão de Cirene, que estava chegando do campo, e colocaram-lhe a cruz às costas, fazendo-o carregá-la atrás de Jesus.
Paulo fornece outra aplicação prática em Colossenses 3.22-24:
Escravos, obedeçam em tudo a seus senhores terrenos, não somente para agradá-los quando eles estiverem observando, mas com sinceridade de coração, pelo fato de vocês temerem o Senhor. Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para homens, sabendo que receberão do Senhor a recompensa da herança.
Resumo geral da mensagem:
- Não devemos permitir a vingança e o rancor, mas retribuir as ofensas com amor e perdão.
- Não devemos focar nossos direitos, mas cumprir nossos deveres como cristãos.
- Não devemos fazer somente o mínimo pedido, mas o máximo de nossa capacidade.