Nota de falecimento – Ursula Bender
11/03/2020 | Avisos e Notícias
Uma vida marcada pela graça de Deus
26.3.1953 – 11.3.2020
A nossa querida missionária Ursula Bender foi liberta do sofrimento e da doença e finalmente se encontra na presença de seu Rei, como gostava de dizer.
Para a Ibasp, é um privilégio ter acompanhado seu trabalho durante tanto tempo e poder contemplar agora seu exemplo de fidelidade, entrega e humildade. E que felicidade é saber que um dia vamos reencontrá-la!
Muito bem, serva boa e fiel!… Venha e participe da alegria do seu Senhor! (Mt 25.21)
O texto a seguir é um resumo da autobiografia da missionária Ursula Bender. As fotos foram tiradas das cartas que regularmente enviava a seus apoiadores e intercessores.
“A minha vida foi plena da graça de Deus e eu só posso admirar e louvá-lo por isso!!!”
Ursula nasceu em Bonn, Alemanha no dia 26 de março de 1953, numa família com tradição cristã, e ela era a segunda filha de 6 irmãos. Cresceu com 3 irmãos meninos – as irmãs vieram depois – e isso a tornou criativa e resistente, o que favoreceu o seu trabalho missionário mais tarde entre os guaranis.
Crescendo num lar católico, sempre teve o desejo de ter um relacionamento vivo com Deus. Em 1971 terminou o ensino médio e decidiu fazer a faculdade na área de Pedagogia com especialização em Déficit de Aprendizado e com ênfase em matemática.
Deus usou seus colegas de faculdade e, com 20 anos de idade, em 1972, conheceu a Cristo como seu Salvador. Aprendeu a ler e a estudar a Bíblia e teve contato com a DIPM (Missão Alemã de Trabalho Indígena no Brasil e no Paraguai).
Em 1973 iniciou um curso bíblico, preparando-se para trabalhar para o Senhor. Quando ficou sabendo da morte de 2 missionárias daquela missão no Paraguai num acidente de avião, disse a Deus que estaria pronta para ir no lugar delas. Continuou em oração pela certeza deste passo e se preparando.
Chegou ao Brasil em janeiro de 1979, em São Paulo. Passou um tempo em Campinas para o estudo da língua portuguesa e conheceu o Pastor Robert Schmidt, pastor da IBASP na época. Decidiu se filiar a nossa igreja onde encontrou o seu lar espiritual e muitos irmãos e amigos até hoje.
Em 1980 foi a Campo Grande, MT para um trabalho prático, lecionando para os filhos dos missionários da região.
Em maio de 1981 mudou-se para Pirajuí, MT, divisa com o Paraguai, onde permaneceu até 2012. A palavra que sempre a sustentou é de Mateus 28: 18-20 que diz:
“Toda autoridade me foi dada no céu e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a guardar todas as coisas que tenho ordenado a vocês. E eis que estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos.”
O ponto forte de sua missão sempre foi o ensino, mas, vendo tudo o que estava contido na “Grande Comissão,” ela trabalhou em muitas áreas, confiando o que diz Isaías 41.10: “Não tenha medo, estou contigo…”
Sempre teve em mente que, paralelamente ao ensino, sua missão era formar professores indígenas para este trabalho. Também trabalhou com os pais dos alunos, visitando-os, dialogando e ensinando.
Para ela, escola e Igreja sempre andaram de mãos dadas. Nos finais de semana, fazia classes bíblicas para adultos, ao mesmo tempo que os alfabetizava. Na escola e em todas as reuniões sempre iniciava e terminava com oração. Além do currículo escolar, ensinou hábitos de higiene, cuidados da saúde e orientações gerais.
Nos finais de semana, também organizou encontros de jovens e Escola Bíblica dominical com a presença de muitas crianças.
Cerca de 70 professores receberam formação para atuar na região de Paranhos em 7 escolas. A escola da missão foi reconhecida pelo MEC em 1978. Em 1999 iniciou com seus colegas um projeto de férias para que muitos professores da região dos Guaranis e também Kaiovás pudessem receber uma formação oficial para trabalharem com os indígenas. Vários deles, confrontados com o Evangelho, se decidiram por Cristo. Em 2010 a escola missionária foi entregue à aldeia de Pirajui.
Ursula ainda acompanhou este processo e, principalmente, fornecendo o material didático, que em grande parte foi digitalizado e até hoje serve para aquela região brasileira e os índios guaranis do Paraguai.
Desde 1999 atuou também em Rondônia entre os Paumaris para ajudar lá na formação de professores, indo para lá 1 a 2 vezes ao ano de 1999 a 2011. Mudou-se para Porto Velho em 2012 para de lá ir a Crispinho, nas aldeias, numa viagem de um dia inteiro de carro e mais 18 horas de barco. Quando era possível ia de avião. Essa época foi muito intensiva, não sem muitas batalhas, dando cursos bíblicos e no preparo de material didático.
Viveu também na aldeia, nas casas de palafita e pau-a-pique. Em janeiro de 2014, visitou Cipriano, indígena guarani, que se havia mudado com a família para o Paraguai e ele ali lhe mostrou num mapa quantas aldeias não tinham escolas. Oraram sobre este novo desafio.
Em fevereiro de 2014 seus irmãos a chamaram de volta para a Alemanha para cuidar da sua mãe de 91 anos, mas a mesma apenas se despediu e faleceu após cinco dias. Quando fez, em seguida, seus exames médicos, verificou a mão de Deus, pois recebeu o diagnóstico de câncer de mama. Passou então por cirurgia, quimio e radioterapia intensivas. Foi uma pausa forçada, onde Deus mostrou a ela que estamos, na verdade, todos a caminho de casa.
Em fevereiro de 2016 pôde voltar ao Brasil, mas, por indicação médica, não mais poderia ficar longe de centros médicos maiores. Voltou então para Paranhos MT e de lá visitava as aldeias paraguaias próximas onde se encontrava Cipriano. A situação educacional lá era muito precária, sendo que os próprios professores tinham pouquíssimo estudo, e, além disso, mostrando pouco interesse. Temporariamente mudou-se para o Paraguai para a casa de Cipriano, junto com 20 familiares e animais domésticos na mesma casa.
Úrsula iniciou então as aulas para as crianças, 7 a 8 grupos de manhã e de tarde! Mas, que alegria, aprenderam a ler e escrever.! A sua estadia direta lá mostrou a precariedade de toda a situação: as crianças crescem como pequenos bichos, sem instrução alguma, sem higiene e sem educação, mas, querendo mandar nos adultos.
No Brasil continuou a partir de Paranhos, orientando e sempre ajudando nas escolas, onde teve a alegria de também ver os frutos de sua atuação em todos esses anos. No primeiro semestre de 2018 foram diagnosticadas metástases do seu câncer primário e isso a levou a voltar para a Alemanha em agosto de 2018.
Mudou-se de novo para Bonn, de onde manteve bastante contato através das redes sociais, Whatsapp e Facebook com seus ex-alunos e professores, podendo mesmo na doença ainda servir de orientadora para eles. A Missão Indígena na América do Sul continuará… A missão é obra de Deus…
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